domingo, 17 de outubro de 2010

As memorias de um eis combatente No 11

Do Niassa até Porto Amélia, Cabo Delgado.

Um aquartelamento bom, com umas instalações mais ou menos, um ambiente da vida civil, entrada e saida sem farda, para o caso em Porto Amélia um pré fabricado em muito bom estado. Não tivemos muito tempo para nos gozar dele, em três meses que se esteve em Cabo Delgado.
Fizemos uma operação á costa, na área de Mocímbua da Praia, terreno muito pantanoso e bem difícil.
Desembarcados e reembarcados por uma Fragata.
De volta á base, mais uns dias de praia, para mim, numa das melhores praias de Moçambique, praia parece que nunca mais acaba.
Dias depois, numa manhã.
Nova convocatória alguns camiões Mercedes na parada, destribuição do pessoal pelos camiões e lá vamos nós até Mueda.
Uma estrada bem complicada para colunas automoveis, minas, embuscadas, uma zona muito flagelada pela frelimo, todo aquele que passasse para norte do crusamento da viúva. Digamos na zona mais próxima a Mueda onde se situava a tão celebre curva da morte, onde tantos soldados do exercito perderam a vida.
Não sei se por sorte, vontade própria, vou novamente trazer de volta a “tropa macaca” como eramos conhecidos pela frelimo. Passamos toda esta estrada sem um tiro ou um rebentamento.
Chegados a Mueda, á que levanter um acampamento com tendas de campanha.
Algum descanso.
Um ou dois dias depois, uma operação a norte de Mueda, desta vez fiquei em casa. (No acampamento).
Sei que ouve encontro com a frelimo, que ouve tiros de parte a parte.
O guia que tinha pertêncido aos Paraquedistas e digo pertencido porque ouve um pequeno precalso para ele.
Um dos membros do destacamento que se apercebeu e no encontro com a Frelimo, o guia tentou fugir. O Fuzileiro/Eletrecista (Manuel Antonio Galito de Almeida, Mar Fze 266/68) não pensou duas vezes e com uma rajada de G3 o guia foi ao chão, não morreu desta, para sorte dele.
Teve uma operação cirurgica de emergencia em Mueda para reparar os intestinos que tinham ficado muito danificados.
Duas semanas neste acampamento. De novo de volta, nova coluna de volta a Porto Amélia, por poucos dias.
Nova coluna de mercedes até ao lago N’gurí.
Passando novamente pelo cruzamento da viúva e em vêz de seguir em frente a caminho de Mueda, viramos á direita para Montepuez,( base dos Comandos ) mas só de passagem.
Com homens á frente a picar a picada para o caso de poder haver minas.
Foi uma progressão de caracol.
Primeiro a segurança do pessoal e viaturas.
Depois de Montepuez, passagem por e sobre uma ponte que só tinha passadeiras para as rodas dos camiões, mas lá fômos até ao lago que já não estava muito longe.
Formar acampamento, montagem de barracas, organizar e começar o reconhecimento.
Canoas apreendidas e empilhadas junto ao nosso acampamento.
No dia a seguir a termos tomado a base do lago N’gurí, o destacamento saiu para dar uma volta e ver se encontrava mais frelimos. Na base ficaram 3 ou 4 Fuzos e o pelotão do exército. Uma hora + - depois de terem saido começámos a ser flagelados por morteiros e algumas rajadas. Os Fuzos que tinham ficado estavam todos com desinteria e como estávamos sempre com necessidade de aliviar a tripa fomos para o buraco onde estava o morteiro porque ficava mais perto do mato que circundava a base. Enquanto a malta do exército andava sem saber o que fazer reagimos à morteirada aos disparos deles e passados uns minutos (gastámos uma caixa de granadas) deixaram de se ouvir os tiros deles. Quando o destacamento voltou eu já tinha comunicado com o Carlos a explicar o sucedido e o DFE circundou a base para os apanhar pelas costas mas a unica coisa que encontrou foram vestigios de sangue no local e continuaram a nomadização.
Incurções ao mato de dois e três dias, mais algumas escaramuças, nada de maior.
Em conjunto com o Exercito nas saídas para a estrada.
Numa destas saídas há uma Berliett que na picada rebenta uma mina e um Furriel do Exercito ferido, ouve também um ou dois Fuzileiros com umas escoriações, mas nada de grave.
Estivemos nesta área mais ou menos um mês.
Depois disto o regreço a Porto Amélia, novamente por pouco tempo.

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Cancioneiro do Niassa Velhas picadas esburacadas Capim cerrado E o calor, sinto o suor Corpo cansado Moscas mosquitos Bichos esquisitos Ai é...